SETE FACES DOS POEMAS de CLÁUDIO MANOEL DA COSTA em SONETOS

INQUIETAÇÕES, INCONFIDÊNCIA E ITABIRISMO

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Qualquer amante da literatura, sobretudo dos versos, não tão douto no assunto, teria dificuldade de entender alguma relação entre Cláudio Manoel da Costa e Carlos Drummond de Andrade, para além da mineiridade entre eles.
 
No entanto, o artigo de Tânia de Assis Silva Capla, Inquietações em Cláudio Manuel da Costa e Carlos Drummond de Andrade: Presságios decoloniais nas poéticas árcade e moderna? publicado em Travessias Interativas, nº 28, volume 13, 2023. Para a pesquisadora do Arcadismo e do Modernismo vê na obra dos dois poetas mineiros algo em comum: a leitura de ambas as poéticas sugere sentimentos de inquietude, o que nos remete ao caráter questionador característico da concepção do pensamento decolonial.
 
“Passados quase dois séculos desde que Cláudio se engaja em funções acadêmico-políticas e torna-se o poeta inconfidente, motivado pelo inconformismo diante da rusticidade da pátria colonizada, percebemos em outro mineiro, Drummond, algumas semelhanças tanto no sentimento de indignação mesclado com a reprodução do pensamento colonial (tendo a origem mineira como pano de fundo) quanto no engajamento de funções públicas.”
 
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FACE I: VAI GLAUCESTE SATÚRNIO, CARREGAR SEU FADO SORTUNO

Glauceste Satúrnio, digo, Cláudio Manoel da Costa fala do infortúnio da vida em dizer sobre o tirano fado ingrato, como ingrato um anjo torto dizer que o eu-lírico será gauche na vida (Soneto 30).
 
Segue falando com o tirano fado (Soneto 32) sobre sua paixão que o quer com sorte escura. A reflexão sobre sua vida, considerada por ele sempre aflita e magoada (Soneto 37). Decide partir (Soneto 51 e Poema 54) seguindo seu fado, seu destino, como um personagem das tragédias gregas. No entanto a preocupação é de quem cuidará do berço (Soneto 84) em que ele nasceu, as montanhas de Minas Gerais. O inconfidente ver a iminência de um desfecho trágico do movimento libertário.
 
Drummond é um descolonizado da sua Itabira, também um “berço entre penhas tão duras”.
 
 

FACE II:  O CÉU NÃO É MAIS AZUL

A relação natureza e desejos que se faz presente no poema de Drummond a ponto de mudar a cor do céu, em Cláudio Manuel da Costa, há ventos que geme pela busca do amor (Soneto 12) e questiona como achar uma alma que suspira por Nise (Soneto 13), como os homens que correm atrás de mulheres, sendo espiados pelas casas. E será que Nise não vê a sombra funesta que vem cobrindo o céu? (Soneto 26). É nosso desejo que impede o azul do céu.
 
 

FACE III: A RUA E A SERRA

Enquanto Drummond observa a multidão na cidade, o pastor árcade chama atenção dos demais para ver como anda as serras, e basta ver a tristeza em seu rosto (Soneto 03). Tudo está mudado com o progresso chegando (Poema 05). O coração de Drummond ressoa a voz do pastor diante do início da degradação do mundo pastoril que eu lugar para a mineração em uma Vila Rica que empobrecia cada vez mais a alma pura.
 

FACE IV: FIRMEZA E SERIEDADE

O homem sério, simples e forte como atributos do eu-poético drummondiano são atributos também do poeta-pastor árcade que se diz firme (Poema 09) diante da tirania da amada. Mas a raridade de amizade, traduzida na pobreza do árcade que o faz infeliz e vexado. A firmeza e seriedade dos eus-lírico não afasta de ambos o cálice da amargura. Resta dizer para o mundo, ou para a pastora amada, que apesar de tudo, é ele mais humano, extremoso e verdadeiro (Poema 67).
 

FACE V: A FÉ E A DOR

A dor que figura na fé oculta (Poema 36) é a fé do homem mineiro que questiona/roga por proteção divina. Quem sabe assim poderia a criatura se sentindo fraca, possa cantar um dia alegre o vencimento (Poema 41). Na fraqueza tudo passa a ser visto como torpe hipocrisia, não há mais fé, não há lealdade (Poema 77). Até mesmo a lealdade divina é questionada. O homem se vê sujeito de toda vil desgraça (Poema 78). Assim como em Drummond, temos em versos dos poemas citados de Cláudio Manuel da Costa o ápice da desilusão com o mundo.
 

FACE VI: PARA UMA LIRA

O rio de sua terra eternizado no poetizar de Glauceste Satúrnio (Poema 02) não o salvará da colonização, diria Drummond para Costa. Mas se o poeta despertar da louca fantasia, se descobrirá enfermo e mendigo (Poema 24), pois rima não é solução.
 
O coração mais vasto, sobretudo quando gosta só de ouvir a amada (Poema 53) mas a poesia e a musa são a causa das penas. Mas poesia é vício, e o coração vasto estará sempre se prestando para uma lira (Poema 76).
 
 

FACE VII: A SUAVIDADE DE UM SONO

O poeta, mesmo vivendo de penúria (Poema 05), não deixa de poetizar com uma alma que está acostumada com as vozes da agonia (Poema 17).
 
Na noite o conhaque e a lua é que impulsiona a poética como um sono suavíssimo (Soneto 16).

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