SÉRIE: SETE FACES DOS POEMAS
OBRA: ASA DE LAGARTA
AUTORA: VANESSA REIS
EDITORA: PATUÁ
ANO: 2014
OBRA: ASA DE LAGARTA
AUTORA: VANESSA REIS
EDITORA: PATUÁ
ANO: 2014
Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Metamorfose Ambulante
(Raul Seixas)
FACE I
...
alice não sabe dançar;
alice não sabe dançar;
...
ana vai até a porta no escuro;
ana vai até a porta no escuro;
...
pedro queria começar a aceitar os nomes que considera feio.
Quatro personagem em uma prosa
poética concreta no mundo dos desejos. Marcos, Alice, Ana e Pedro são gauches
na vida por querer algo que é quase impossível. O não-cumprir o script da
normalidade está presente nestes curtos relatos biográficos do poema Janelas,
se abertas.
— hoje você ainda quer me abraçar?
— por quê?
— porque hoje eu quero
— por quê?
— porque hoje eu tô muito triste.
— ah, mas assim não vale.
O diálogo acima atualiza os
homens que correm atrás das mulheres. A paquera hoje se dá de forma direta e
uma dose de sinceridade que pode contaminar o relacionamento. Há um desejo aqui
que pode não ser meramente carnal, mas da necessidade de companhia na tristeza.
Mas um dos dois não quer assim. Quer o outro falando de coisas alegres. Mas é
desejo que jorra independente se a tarde é ou não azul.
um único filme projetado
em todas as janelas do ônibus
...
mas para além das buzinas
Seria as janelas de um ônibus a
atualização do bonde na Rio de Janeiro de Drummond? Acreditamos que sim. O observador
que está se sentido sozinho vê nas janelas a vida de Marcos, Alice, Ana e Pedro
como projeções de um mesmo filme.
Mas para além das buzinas há tantos barulhos que incomodam os seres urbanos. É à noite em suas casas é que se reza, se pergunta, se combate as pragas (os ratos estão por dentro.)
e aqui dentro o tempo
continha parado
...
encarar a cidade como se
fluísse o rio e não a ponte
...
nas lentes escolhidas
Sério, simples e forte. Qualidades
de quem enfrenta a solidão e o esmagamento do sistema. As notícias sanguinárias
dos jornais, mas parar o tempo e a máquina que esmaga, encarar a cidade como se
a natureza seguisse na fluidez do rio e não as pessoas sobre a ponte. Uma questão
de escolher qual lente vamos ver a cidade, a insanidade? O homem atrás dos
óculos e do bigode é o homem que sofre e sabe da incapacidade de mudar o mundo
sozinho.
morfina diazepam fenergan
pedro queria começar a aceitar os nomes que considera feio.
FACE II
— por quê?
— porque hoje eu quero
— por quê?
— porque hoje eu tô muito triste.
— ah, mas assim não vale.
FACE III
em todas as janelas do ônibus
Mas para além das buzinas há tantos barulhos que incomodam os seres urbanos. É à noite em suas casas é que se reza, se pergunta, se combate as pragas (os ratos estão por dentro.)
FACE IV
continha parado
fluísse o rio e não a ponte
FACE V
Talvez o homem atrás do bigode, ou de outro componente como tatuagem, vive diante dos acontecimentos de séculos de opressão. A rotina fatigante, as horas contadas e o cálice do qual muitos na cidade querem se afastar. Se Deus sabia que éramos fracos, por que este mundo desesperador? A busca pela fé vai tirar a necessidade dos antidepressivos, dos anestésicos, e de toda medicação viciante que faz o homem/mulher sobreviver ao caos.
FACE VI
A fala rasa do eu-lírico de Vanessa Reis e a rima do eu-lírico de Drummond não é a solução diante do mundo que se definha. Ainda assim Vanessa Reis, ou seu eu lírico, quer nos mostrar um mundo novo escondido nesse existente como uma asa que vai nos mostrando que a lagarta vai se transformar em uma borboleta. A poesia seria apenas poesia ou tem algum proposito? A de Vanessa Reis parece que sim, o de alertar o mundo sobre o buraco negro capaz de nos engolir assim como já engoliu um planeta 14 vezes maior que Júpiter.
FACE VII
E pedaços de plásticos transparentes são confundidos com vaga-lumes. À noite vivemos sem as metáforas do dia, sem as máscaras, vivemos a poesia crua e nua da vida. É quando a rima não precisa ser solução. E nem precisa necessariamente de rima, mas de rumo.
OUTRAS POSTAGENS DA SÉRIE
Comentários
Postar um comentário