SETE FACES DOS POEMAS de ANTONIO JADEL em DITO & FEITO: POR ENTRE SONHOS E POESIAS

 O livro de poemas de Antonio Jadel  chegou até mim através do escambo que sempre busco encontrando companheiros de loucuras literárias no Recanto das Letras.

Esta é a segunda postagem da série Sete Faces dos Poemas, como sabido, em referência ao Poema de Sete Faces do nosso mestre Carlos Drummond de Andrade.

O livro é repleto de poemas bem cadenciados e traz uma visão singular e moderna diante do amor, da natureza, dos sonhos, das necessidades fisiológicas, do tempo e das dúvidas. Como diz em seu primeiro poema, é Deus que escreve em linhas tortas. 

 



FACE I

Hoje eu quero ter a vontade única de ser uma “Tarde”,

apenas,

e passar o dia sem olhar no relógio,

 

No poema Eu tarde, o autor quer fugir da sua agenda, não olhar o relógio. Ele retoma este tema em Relógio cuco.

 

Enquanto isso, ao relento, criança relembro:

Na sala da minha tia,

Às 12 horas da meia noite, piava em arte a opção...

 

Aparece aqui e ali, em sua poesia, um eu-lírico incomodado com o tempo.

Tempo, sem tempo por perda de tempo n’agenda

 


FACE II

De cara o poeta se refere ao amor:

Amor, decidido num tribunal ‘multiportas’...

 

A palavra amor aparece pouco em sua poesia, mas este sentimento está intrínseco em vários poemas quando o poema mergulha em sentimentos como a saudade.

Há saudade,

sempre onde a saudade se-lhe cabe.

 

Neste mesmo poema, Saudade, o poema lança mão do concretismo e nos faz ver uma saudade escoando como areia de uma ampulheta e formando novamente saudade no fundo. Esse movimento da saudade que nos leva a saudar um certo momento.




 

FACE III

Segui na contramão do recomendado

perfilhando meus passos – sentido inverso

ao risco do que seria sábio.

 

O poema Contramão é como se fosse o eu-lírico de Drummond vivendo o jeito gauche de ser. Mas o poeta segue firme na contramão. Não se sente perdido e nem encontrado. Ainda que não saiba para onde ir. Tudo é contramão, afirma. Pois ele sabe fazer o contorno mesmo na estrada sem retorno. Talvez o poeta queira aí nos ensinar a arte de viver.

 

FACE IV

Sou eu dentro de mim.

Não estabeleço conexão.

Em sua série de Poema subsequente-subliminar espalhada ao longo da obra, em um deles o poema se revela fechado ao mundo. O eu-lírico se acha ajustado para si e desajustado para o mundo. Um ser não viável, já que o viável é imperfeito. Um eu que se acomoda dentro de sim. 

Vento, assoprado por dentro


 


FACE V

escute-me, ó Deus

inda que nada eu te peça

em preces,

 

Enquanto Drummond se sente abandonado por Deus, o poeta aqui roga a Deus que lhe escute, ainda que ele não peça nada. Somos teístas porque precisamos de algo anterior, exterior e superior a nós para justificar nossas finitudes.  Há uso no mesmo poema Escuta-me da metáfora o joio e o trigo, segundo o poeta, espalhados no mesmo lugar. Refere-se à guerra, em bélica plantação. Ele indiretamente pede paz.

 

FACE VI

—sem nenhum ditado—

—regras sem regras—

— rebelde ao mandado–

— oponente ao Estado—

— discorde de tudo—

 

Em Filosofia o poeta, conhecedor do direito por formação, entende que diante de gente sem eira nem beira, é preciso ser insurgente. O seu credo é assim, o seu amém é sincero. É como se o poeta estivesse dizendo  implicitamente que muito mais vasto que o mundo, é o seu coração.

FACE VII

A carapuça é vestida de negro véu

belo(a)

que s’esconde na espreita da sombra

à meia-noite

de um dia que passou florido & risonho.

 

Em Isolo-me, como um poema despedida do leitor, último na obra, o poeta depara com a noite. Sim, todos nós deparamos com a noite quando se devia calar, mas a “lua deixa a gente comovido como o diabo”. O poeta luta contra seus desejos. Lembra-se do dia florido e risonho e chora por agora mergulhar nos desvarios da alma.


DA MESMA SÉRIE: MÁRCIO MUNIZ


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