O FUTEBOL DE MUTUM
DENTRO DAS QUATRO BOMBAS
Crédito da foto: Mutum-Online |
O Livro de Romance Histórico Operação Mutum, escrito por
José Araujo de Souza, faz uma larga
menção ao futebol de Mutum e ao envolvimento do mutuense com o futebol.
As quatro bombas mencionadas no título se refere ao enredo que narra a busca por quatro bombas caídas de um avião da aeronáutica em solo mutuense.
O palco do nosso futebol no livro, e nos dias atuais, é o estádio Sebastião Cesário, conhecido como Beira Rio. Ele serve, na obra de José Araujo de Souza, de local para que as forças armadas montasse seu Q.G. na sua estadia em Mutum em busca daquilo que seria uma bomba para eles.
Traremos as menções do livro (em itálico) e um comentário abaixo de cada uma
para demonstrar como que algo tão entranhado na vida de grande parte da nossa
população e nas memórias do escritor aparece nesta obra ambientada na Mutum dos
anos 70.
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Quando o primeiro helicóptero passou sobre a cidade, devia ser uma dezenove horas. Dirigiu-se ao Estádio Municipal, onde pousou. Logo a seguir, e por quase toda a noite foram chegando outros. Contei dez.
A chegada de um grande contingente de helicópteros
certamente causou indagações na população daquela época. Sem mencionar a inocência
das crianças que poderiam ter confundido os helicópteros com cegonhas trazendo
crianças. Até hoje o estádio serve de local de pouso dos autogiros que trazem,
entre outras pessoas, os candidatos à caça de votos.
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Era durante o footing
que flertávamos com as garotas, batíamos papo com os amigos e discutíamos
calorosamente futebol. Principalmente nos dias em que o Esporte ou o
Tringolingo jogava, o que acontecia quase sempre nos finais de semana. Era só o
tempo entre voltar do campo de futebol, que era como conhecíamos o Estádio
Municipal, tomar um banho, trocar de roupa e correr para a praça.
Aqui há uma narrativa que perdurou por boa parte dos anos 80.
Futebol à tarde e a praça à noite. Depois da missa das 19h00. O giro das
meninas e os olhares dos meninos, lembrando a segunda estrofe de Poema de Sete
Faces do grande Drummond. Assim é que funcionava para a juventude mutuense. Ressalto
também a menção a outro time conhecido como Tringolingo, alcunha do Independente.
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O Esporte Clube Mutum
não jogaria em casa naquele domingo, porque o seu Estádio Municipal estava
servindo de Quartel General para as tropas encarregadas de resgatarem as bombas
lançadas sobre a cidade. Jogariam em Afonso Cláudio, no Espírito Santo, para onde
o time já tinha viajado de madrugada, logo após o fim do baile.
Afonso Cláudio hoje é logo ali. Mas nos anos 70 por causa
das estradas da época ficava um pouco mais distante. Não sabemos na ficção de
José Araujo de Souza se este jogo foi contra o Botafogo ou Ipiranga, os dois
times históricos da cidade capixaba. Temos outra vez a descrição da rotina da
juventude naquela época, menção ao baile no clube.
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Além do salão do Zequita havia tabuleiros de xadrez e damas em outros locais, como o Clube Recreativo e o Tringolingo, clube que pertencia ao Independente, clube de futebol que rivalizava com o Esporte.
Os melhores jogos
aconteciam aos sábados, quando o salão ficava cheio, com todas as cadeiras de
barbeiro ocupadas, e nas manhãs de domingo, depois das missas e dos cultos,
pois ás tardes todos tinham compromisso com o Esporte, com sua camisa vermelha
como a do América do Rio de Janeiro ou com o Tringolingo, com sua camisa
amarela como a camisa da Seleção Brasileira.
A lembrança das barbearias ou salão de beleza na convivência social. As barbearias estão de volta na cidade através de vários jovens e seus estabelecimentos. Outro esporte que foi retomado em Mutum atualmente, o xadrez, lembrado aqui da sua prática de outrora. As camisas dos times e sua relação com clubes de relevância nacional. E o América do Rio de Janeiro de tantas glórias no passado, inspirou vários times pelo país. América é o homônimo mais vasto no Brasil.
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No quartel improvisado
no Estádio Municipal, naquele dia, surgiu uma nova preocupação além da
principal, que era achar as bombas: o rio.
O volume de suas águas
estava aumentado muito rapidamente... O que poderia se tornar um problema sério
para os militares, já que o Estádio Municipal, onde estava instalado o quartel
general das tropas, sempre era tomado pelas águas do Rio Mutum, quando enchia
demais e saía de sua caixa.
Menção a um problema que persiste. Faz parte do ciclo da natureza. Aqui foi também preocupação para os militares. Foto de enchentes em Mutum sempre tem o estádio submerso sobre as águas amarelas. Tirar o estádio de lá e deixar a área para o parque de exposição já foi pensado. Mas o nosso majestosos Beira Rio segue firme enfrentando as intempéries da natureza e dos homens na história da nossa cidade.
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Era lá, na Rua da
Praia, que ficava o Estádio Municipal, transformado em quartel das tropas
militares.
Não é somente em Mutum, estádio de futebol, incluindo os
grandes como Maracanã, Mineirão, Morumbi... servem para outras atividades, como
aqui no romance de José Araujo de Souza. Já vimos estádios servirem de estacionamento,
local de festival de música, ordenações religiosas, grandes cultos, prisão de ativistas
políticos como aconteceu no Chile, grandes discursos como em São Bernardo do
Campo. Por ser uma área de grandes proporções entre casas que se acotovelando
na cidade, os estádios acabam sendo locais de eventos de todas as naturezas que
aglomeram.
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“Naquela noite de
quarta-feira, como aconteciam todas de quarta e de quinta-feira e nas tardes de
sábado e de domingo, um grupo de torcedores se reunia no Bar do Paulo e em
outros locais onde havia algum aparelho de televisão exposto ao público, para
assistirem a jogos de futebol. Em Mutum só eram captados os sinais da Rede
Globo, Rede Tupi e Rede Bandeirantes. Todas as programações diretas do Rio de
Janeiro e de São Paulo.”
O texto segue com menção ao jogo Flamengo e Portuguesa e
Flamengo e Bangu, pelo carioca, inclusive com a relação dos jogadores. Lembrei
de Lúcio de Castro sobre o fim da geral no Maracanã. Ele disse que o bares dos
bairros do Rio de Janeiro com o Per Pay View seria a nova geral. E recentemente
tivemos esta cena de volta justamente com o Per Pay View, com direito a telão
nos bares e quiosques e projeção em ambiente fechado. Fica também registrado a
questão dos canais sintonizados em Mutum, incluindo a extinta TV Tupi. E a
confirmação do motivo que levou aos grandes do Rio de Janeiro e de São Paulo a
terem torcedores espalhados pelo Brasil inteiro. Antes da televisão havia as
rádios destes dois lugares que tinham alcance nacional.
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A terceira bomba foi
levada para o quartel general dos militares, no Estádio Municipal, onde ficaria
protegida por medidas especiais de uma segurança, junto das outras duas.
O estádio certamente já era cercado para oferecer a
segurança. Mas sendo o estádio dentro da cidade, estava a população segura? O questionamento
aqui não é sobre a narrativa do autor, mas sobre as medidas tomadas por
autoridades que nem sempre pensam na população. Imagina-se aqui o estádio já
cercado com suas muralhas de madeira que perdurou até os anos 80. Lembro-me de
um jogo entre Esporte e Nacional de Resplendor em que ainda havia esta proteção
no estádio.
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Era católico de frequentar a igreja, assistindo sempre as
missas aos domingos. Dizia-se torcedor fanático do Vasco da Gama e não gostava
de emitir opinião sobre política.
(Menção ao personagem Paulo Otávio, que era o Sargento
Flores, estando em Mutum para organizar a resistência armada).
Corroborando com o comentário da página 140, a torcida por
outros times. Neste caso trata-se de alguém que veio para Mutum, então é comum
que estes torçam para times dos locais de onde vieram. Assim como gente que
veio do Rio Grande do Norte torça para o América de Natal, de São Paulo torça
para o Corinthians.
Está é a segunda postagem da série três sobre o livro
Operação Mutum. Nesta abordamos o futebol mencionado nas páginas de José Araujo
de Souza, ex jogador do Esporte e escritor. Acredito que o seu envolvimento com
o esporte bretão o fez incluir detalhes do nosso futebol em sua obra.
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